sexta-feira, 15 de outubro de 2010

De olhos fechados

Se os pássaros voam e nós caímos, é porque nos desiludimos. As ilusões sustentam-nos no vazio como asas espraiadas que nos fazem tocar o céu.
Queremos acreditar que podemos fazer da ilusão realidade mas temos medo da queda que nos reclama. Ignoramos que já caímos no abismo incontáveis vezes e que iremos cair outras tantas numa espiral interminável.
Nós, anjos caídos temos de voar aos pares pois das asas resta-nos a pena de estarmos sós. Amamos de olhos fechados e mergulhamos num abraço em queda livre.
Que os ventos nos soprem sobre o abismo, cortando os fios que nos prendem a esta ilusão. E mergulhemos na vertigem azul, libertando todo o peso do corpo para a alma voar mais longe ao encontro do outro.

Uma música para aqueles que olham para o céu com saudade.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Um brinde

Olhos nos olhos, sem condicionamentos. É fazermos o que sentimos, livres do amanhã. Agirmos sem pensar nas consequências de algo que apenas existe agora. Posso beijar-te? Se não o fizesses, fá-lo-ia eu, devolve ela.
Se não queres, diz-me rápido antes que as minhas defesas sucumbam comigo. Nos seus lábios beijei o céu. És um anjo... caído, acrescento. Tenho medo de te magoar... Apetece-me apertar-te tanto.. Aperta, digo saltando no abismo.
Pura vertigem à flor da pele, pressinto a ressaca aumentada por cada beijo que escorre pelos recantos subtis do corpo. De olhos fechados, sinto-me em casa, abraçado ao meu amor. Até acordar.
Um brinde, aos momentos de amor. Que sejam intensos ao ponto de nos arderem o coração. Confesso que o amor é algo louco com uma mulher tão maravilhosa e livre quanto tu.
Só te quero ver sorrir e agarrar a tua mão caminhando a teu lado pela vida fora. Um último brinde às saudades que crescem na tua ausência ao sabor do vento para que um dia encontres o caminho de regresso.
Uma música que me assombra as noites desde que te conheci.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Engarrafado

Demorou muito tempo a chegar até ti esta mensagem, permanecendo esquecida nos escombros do meu coração. Agradeço à providência ter-te trazido até ela para finalmente te poder dar algo que sempre foi teu.
Acredito que há coisas tão maravilhosas quanto únicas e embora o destino permaneça um mistério velado que vou desbravando ao longo do caminho, sempre tive saudades de um amor que nunca veio.
Mas nunca é uma palavra que não existe no léxico do amor.
Da mesma forma que o meu sentimento transborda nestas palavras, o que quero partilhar contigo é este oceano infinito que nenhuma barragem pode conter.
É este sentimento inelutável que me faz espraiar as asas e saltar no vazio para te dar a mão, munido apenas do sempre fui.
Não sou mais do que o mensageiro dessa coisa linda que nos une na linguagem do criador supremo. A minha alma é mero fragmento de algo que se completa à tona do teu olhar.
Aquilo de que falo está para além de todo o tempo do mundo, onde permaneceu à tua espera para se revelar, pois algo acontece sempre, quando tem de acontecer.
Passei a minha vida toda à tua procura, à deriva em turbilhões de emoções que me faziam despenhar contra os rochedos de peito aberto. À força de tantas vezes naufragar, encalhei numa ilha deserta, cercado por águas revoltas e sinistras.
Aí permaneci durante todo este tempo, à tua espera para serenar a minha tormenta. Mas o tempo foi passando e o meu coração de tanta saudade chorou esta pérola negra que desaguou nas tuas mãos.
Fui abençoado com a vida e com o dom de a pôr por escrito mas a minha vida não é mais do que páginas soltas que esvoaçam sem rumo. Sei que quando te encontrar, irei escrever a história das nossas vidas. E assim o meu verbo será conjugado num nós finalmente completo.
És tu que me fazes acordar e acreditar no destino que irei partilhar contigo pela vida fora. Quero caminhar a teu lado e finalmente regressar a casa, onde criarei raízes e darei graças por cada instante de calor e de luz no meu peito.
Acredito que o amor não se define pois quando se ama, ama-se também a vida, que é sempre demasiado grande e misteriosa. E por isso sei que o preço a pagar por amar é libertarmos o nosso amor para que ele regresse um dia, quando encontrar o seu caminho.
Por isso meti todo o meu amor numa garrafa que flutuou pelo oceano do tempo até ti, para que tu o libertasses. Se por acaso achares que este amor não é teu, devolve-o ao mar salgado onde ele pertence.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Leve

Hoje emergi do torpor húmido dos sonhos e escutei. Nada mais do que o silêncio pacífico que fica após a tempestade se ir embora sem se despedir.
Livre dos enleios, levantei-me e sentei-me nos escombros dum sonho naufragado. Sobrevivera à tormenta intacto e sereno, à tona de mim próprio.
Tudo passa quando a aurora vem, dissipando as nuvens negras. E a mesma luz que ilumina estes corredores, enche o meu peito dolente que já não está vazio.
O tempo expia o sofrimento que arrastamos quando percebemos que o nosso amor é leve como a luz que desponta no horizonte e o resto nada mais do que sombras passadas.
Pelo caminho ficam os que desconhecem que o privilégio da escolha errada lhes custa a felicidade.
A todos os meus amores dedico esta canção.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Galaxy of emptiness

Hoje quero partilhar uma bela música da Beth Orton que me recorda uma frase do Oscar Wilde: "Estamos todos na sarjeta, mas alguns de nós estão a olhar para as estrelas".

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Enquanto o diabo esfrega o olho

Há momentos que passam por nós que podem mudar o nosso caminho. Enquanto pestanejamos, o destino vem disfarçado de inúmeras formas, tantas quanto o diabo consegue imaginar.
Às vezes abraçamo-lo e sentimos que o tempo parou por um instante apenas para depois olharmos por cima do ombro em busca de algo novo.
Nunca encontrei paz no peito duma mulher. Por muito que abrace, beije e adormeça agarrado ao meu amor, acabo por acordar na sua ausência com outra qualquer.
De tanto amar, perdi a minha fé; sacrifiquei no fogo profano o meu amor, consumindo a minha alma de desejo. Nada é sagrado em todo o chão onde caí; apenas encontrei pedras, pó, dor e desilusão.
O amor é uma droga que precisa de doses cada vez maiores para atingir o mesmo efeito. E por isso, sempre que o destino vem, damos mais e mais para que o amor fique. Mas ele nunca fica, apenas passa.
Podemos dar o que quisermos, que mesmo assim o diabo volta para reclamar mais. E recomeça tudo outra vez da casa de partida, enquanto o diabo esfrega o olho ;)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

730 dias

"Absence is to love as wind is to fire; It extinguishes the small and kindles the great".

Metamorfoses

Passamos a vida vagueando neste caos solitário em busca de uma estrela que nos oriente de regresso a casa. Acreditamos que vamos encontrar o caminho ignorando que as estrelas não são mais do que um aglomerado acidental de astros perenes que dançam no vazio ao sabor do tempo. Às vezes, perdemo-nos da estrela que nos guia, outras tantas, desiludimo-nos com o que está por detrás do seu brilho ou descobrimos que é apenas eco de um passado extinto.
No caos desta vida, o encontro de duas almas gémeas é um milagre. Quando se acham, a solidão desaparece dando lugar a uma estranha familiaridade de palavras e gestos apenas sonhados, reflectidos no outro. Impelidas por uma estranha força que as atrai, abraçam-se em silêncio. Nesse abraço, sem passado nem futuro, sentem o que suspeitavam apenas existir, a sua origem e destino finalmente reencontrados.
As almas gémeas, quando o são, não são iguais, apenas se entregam de forma igual, sem esforço. Sentindo-se inteiras e aceites, sem perguntas nem condições, cessam a sua demanda como se tivessem reunido algo que tem a sua razão de ser no outro.
Mas a vida é eterna mudança enquanto o universo respira. As constelações expandem-se, aumentando o espaço vazio entre as estrelas, cada vez mais remotas. Olhos nos olhos, a janela que une as almas transforma-se num espelho através do qual as almas já não se conseguem tocar. E as almas condenam-se a errar incontáveis vezes pelo vazio do universo em busca de algo que já as encontrou.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Aos amores impossíveis

Por medo de estar sozinho, o verdadeiro amor foi crucificado.
Forçado a conformar-me, a minha alma foi negada.
Os anos passaram, e toda a esperança se afundou;
De que sejamos finalmente livres, sendo apenas sonhos passados.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Máscaras

Vivemos rodeados de máscaras neste baile quotidiano em que só entra quem tem uma. Nem nos apercebemos que as temos colocadas por causa da leveza com que nos moldam a cada situação. À custa de as usarmos, elas vão-se entranhando na pele, fazendo-nos acreditar que somos o que parecemos, alimentando a ilusão de que somos mais do que criaturas patéticas aos papeis.
Tentamos esconder os nossos defeitos e vulnerabilidades; queremos acreditar que somos melhores aos olhos dos outros, de forma a sermos aceites. Criamos expectativas e ilusões, nem nome das quais fingimos, mentimos, matamos, pois preferimos outras realidades a ter de lidar com a nossa solidão.
A verdade é que ninguém as quer tirar. Uns porque têm medo de que não haja nada por detrás, outros para evitar o horror de revelar à luz do dia a criatura monstruosa que têm dentro de si. Com o tempo, tornam-se impermeáveis, amordaçando-nos dentro de nós próprios. E percebemos que não conseguimos tirar a máscara porque já nem nos recordamos do que realmente somos sem ela.
Mais tarde ou mais cedo, as máscaras começam a pesar, a sufocar, a revelar uma rigidez desconfortavel, que precede o surgimento de rachas a cada movimento em falso. Deixamos de ser livres, para sentir, para amar. Porque amar é sermos permeáveis e tirarmos a máscara perante o outro. E quando finalmente chega a meia-noite, descobrirmos que nos perdemos de nós próprios e o baile terminou e não restou ninguém para dançar a não ser aquela máscara no espelho.