quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O meu daemon

Solto a voz finalmente do silêncio enclausurado nesta casa de loucos perdidos e espelhos partidos, deixando que ela sopre a minha consciência para além dos limiares da escuridão que me rodeia. O seu sopro impele os meus dedos para libertar estas palavras que lhe dão forma.
Assim sereno a alma turva, deixando transparecer o reflexo do meu espírito à tona dum mar de sentimentos e memórias pálidas. Apesar do medo que tinge as palavras afogando-as no esquecimento, solto-as no vazio, libertando este ser imortal.
Sou um monstro imperfeito e retalhado que se completa através do outro. Sou viciado em amar, em estar apaixonado e em tocar a pétala antes dela esmorecer sorvendo o seu calor. Essa centelha que incendeia todo o meu ser faz-me espraiar as asas ao vento e voar por cima do abismo.
O meu nome é legião pois somos muitos sonhadores aqui dentro, condenados a percorrer um longo caminho antes de adormecer. Esta é a voz que nos une a todos ao todo, numa espiral de regresso ao âmago do que sempre fui. Esta é a voz do meu daemon.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

De olhos fechados

Se os pássaros voam e nós caímos, é porque nos desiludimos. As ilusões sustentam-nos no vazio como asas espraiadas que nos fazem tocar o céu.
Queremos acreditar que podemos fazer da ilusão realidade mas temos medo da queda que nos reclama. Ignoramos que já caímos no abismo incontáveis vezes e que iremos cair outras tantas numa espiral interminável.
Nós, anjos caídos temos de voar aos pares pois das asas resta-nos a pena de estarmos sós. Amamos de olhos fechados e mergulhamos num abraço em queda livre.
Que os ventos nos soprem sobre o abismo, cortando os fios que nos prendem a esta ilusão. E mergulhemos na vertigem azul, libertando todo o peso do corpo para a alma voar mais longe ao encontro do outro.

Uma música para aqueles que olham para o céu com saudade.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Um brinde

Olhos nos olhos, sem condicionamentos. É fazermos o que sentimos, livres do amanhã. Agirmos sem pensar nas consequências de algo que apenas existe agora. Posso beijar-te? Se não o fizesses, fá-lo-ia eu, devolve ela.
Se não queres, diz-me rápido antes que as minhas defesas sucumbam comigo. Nos seus lábios beijei o céu. És um anjo... caído, acrescento. Tenho medo de te magoar... Apetece-me apertar-te tanto.. Aperta, digo saltando no abismo.
Pura vertigem à flor da pele, pressinto a ressaca aumentada por cada beijo que escorre pelos recantos subtis do corpo. De olhos fechados, sinto-me em casa, abraçado ao meu amor. Até acordar.
Um brinde, aos momentos de amor. Que sejam intensos ao ponto de nos arderem o coração. Confesso que o amor é algo louco com uma mulher tão maravilhosa e livre quanto tu.
Só te quero ver sorrir e agarrar a tua mão caminhando a teu lado pela vida fora. Um último brinde às saudades que crescem na tua ausência ao sabor do vento para que um dia encontres o caminho de regresso.
Uma música que me assombra as noites desde que te conheci.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Engarrafado

Demorou muito tempo a chegar até ti esta mensagem, permanecendo esquecida nos escombros do meu coração. Agradeço à providência ter-te trazido até ela para finalmente te poder dar algo que sempre foi teu.
Acredito que há coisas tão maravilhosas quanto únicas e embora o destino permaneça um mistério velado que vou desbravando ao longo do caminho, sempre tive saudades de um amor que nunca veio.
Mas nunca é uma palavra que não existe no léxico do amor.
Da mesma forma que o meu sentimento transborda nestas palavras, o que quero partilhar contigo é este oceano infinito que nenhuma barragem pode conter.
É este sentimento inelutável que me faz espraiar as asas e saltar no vazio para te dar a mão, munido apenas do sempre fui.
Não sou mais do que o mensageiro dessa coisa linda que nos une na linguagem do criador supremo. A minha alma é mero fragmento de algo que se completa à tona do teu olhar.
Aquilo de que falo está para além de todo o tempo do mundo, onde permaneceu à tua espera para se revelar, pois algo acontece sempre, quando tem de acontecer.
Passei a minha vida toda à tua procura, à deriva em turbilhões de emoções que me faziam despenhar contra os rochedos de peito aberto. À força de tantas vezes naufragar, encalhei numa ilha deserta, cercado por águas revoltas e sinistras.
Aí permaneci durante todo este tempo, à tua espera para serenar a minha tormenta. Mas o tempo foi passando e o meu coração de tanta saudade chorou esta pérola negra que desaguou nas tuas mãos.
Fui abençoado com a vida e com o dom de a pôr por escrito mas a minha vida não é mais do que páginas soltas que esvoaçam sem rumo. Sei que quando te encontrar, irei escrever a história das nossas vidas. E assim o meu verbo será conjugado num nós finalmente completo.
És tu que me fazes acordar e acreditar no destino que irei partilhar contigo pela vida fora. Quero caminhar a teu lado e finalmente regressar a casa, onde criarei raízes e darei graças por cada instante de calor e de luz no meu peito.
Acredito que o amor não se define pois quando se ama, ama-se também a vida, que é sempre demasiado grande e misteriosa. E por isso sei que o preço a pagar por amar é libertarmos o nosso amor para que ele regresse um dia, quando encontrar o seu caminho.
Por isso meti todo o meu amor numa garrafa que flutuou pelo oceano do tempo até ti, para que tu o libertasses. Se por acaso achares que este amor não é teu, devolve-o ao mar salgado onde ele pertence.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Leve

Hoje emergi do torpor húmido dos sonhos e escutei. Nada mais do que o silêncio pacífico que fica após a tempestade se ir embora sem se despedir.
Livre dos enleios, levantei-me e sentei-me nos escombros dum sonho naufragado. Sobrevivera à tormenta intacto e sereno, à tona de mim próprio.
Tudo passa quando a aurora vem, dissipando as nuvens negras. E a mesma luz que ilumina estes corredores, enche o meu peito dolente que já não está vazio.
O tempo expia o sofrimento que arrastamos quando percebemos que o nosso amor é leve como a luz que desponta no horizonte e o resto nada mais do que sombras passadas.
Pelo caminho ficam os que desconhecem que o privilégio da escolha errada lhes custa a felicidade.
A todos os meus amores dedico esta canção.