sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Máscaras

Vivemos rodeados de máscaras neste baile quotidiano em que só entra quem tem uma. Nem nos apercebemos que as temos colocadas por causa da leveza com que nos moldam a cada situação. À custa de as usarmos, elas vão-se entranhando na pele, fazendo-nos acreditar que somos o que parecemos, alimentando a ilusão de que somos mais do que criaturas patéticas aos papeis.
Tentamos esconder os nossos defeitos e vulnerabilidades; queremos acreditar que somos melhores aos olhos dos outros, de forma a sermos aceites. Criamos expectativas e ilusões, nem nome das quais fingimos, mentimos, matamos, pois preferimos outras realidades a ter de lidar com a nossa solidão.
A verdade é que ninguém as quer tirar. Uns porque têm medo de que não haja nada por detrás, outros para evitar o horror de revelar à luz do dia a criatura monstruosa que têm dentro de si. Com o tempo, tornam-se impermeáveis, amordaçando-nos dentro de nós próprios. E percebemos que não conseguimos tirar a máscara porque já nem nos recordamos do que realmente somos sem ela.
Mais tarde ou mais cedo, as máscaras começam a pesar, a sufocar, a revelar uma rigidez desconfortavel, que precede o surgimento de rachas a cada movimento em falso. Deixamos de ser livres, para sentir, para amar. Porque amar é sermos permeáveis e tirarmos a máscara perante o outro. E quando finalmente chega a meia-noite, descobrirmos que nos perdemos de nós próprios e o baile terminou e não restou ninguém para dançar a não ser aquela máscara no espelho.