Vivemos rodeados de máscaras neste baile quotidiano em que só entra quem tem uma. Nem nos apercebemos que as temos colocadas por causa da leveza com que nos moldam a cada situação. À custa de as usarmos, elas vão-se entranhando na pele, fazendo-nos acreditar que somos o que parecemos, alimentando a ilusão de que somos mais do que criaturas patéticas aos papeis.
Tentamos esconder os nossos defeitos e vulnerabilidades; queremos acreditar que somos melhores aos olhos dos outros, de forma a sermos aceites. Criamos expectativas e ilusões, nem nome das quais fingimos, mentimos, matamos, pois preferimos outras realidades a ter de lidar com a nossa solidão.
A verdade é que ninguém as quer tirar. Uns porque têm medo de que não haja nada por detrás, outros para evitar o horror de revelar à luz do dia a criatura monstruosa que têm dentro de si. Com o tempo, tornam-se impermeáveis, amordaçando-nos dentro de nós próprios. E percebemos que não conseguimos tirar a máscara porque já nem nos recordamos do que realmente somos sem ela.
Mais tarde ou mais cedo, as máscaras começam a pesar, a sufocar, a revelar uma rigidez desconfortavel, que precede o surgimento de rachas a cada movimento em falso. Deixamos de ser livres, para sentir, para amar. Porque amar é sermos permeáveis e tirarmos a máscara perante o outro. E quando finalmente chega a meia-noite, descobrirmos que nos perdemos de nós próprios e o baile terminou e não restou ninguém para dançar a não ser aquela máscara no espelho.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
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