sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Leve

Hoje emergi do torpor húmido dos sonhos e escutei. Nada mais do que o silêncio pacífico que fica após a tempestade se ir embora sem se despedir.
Livre dos enleios, levantei-me e sentei-me nos escombros dum sonho naufragado. Sobrevivera à tormenta intacto e sereno, à tona de mim próprio.
Tudo passa quando a aurora vem, dissipando as nuvens negras. E a mesma luz que ilumina estes corredores, enche o meu peito dolente que já não está vazio.
O tempo expia o sofrimento que arrastamos quando percebemos que o nosso amor é leve como a luz que desponta no horizonte e o resto nada mais do que sombras passadas.
Pelo caminho ficam os que desconhecem que o privilégio da escolha errada lhes custa a felicidade.
A todos os meus amores dedico esta canção.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Galaxy of emptiness

Hoje quero partilhar uma bela música da Beth Orton que me recorda uma frase do Oscar Wilde: "Estamos todos na sarjeta, mas alguns de nós estão a olhar para as estrelas".

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Enquanto o diabo esfrega o olho

Há momentos que passam por nós que podem mudar o nosso caminho. Enquanto pestanejamos, o destino vem disfarçado de inúmeras formas, tantas quanto o diabo consegue imaginar.
Às vezes abraçamo-lo e sentimos que o tempo parou por um instante apenas para depois olharmos por cima do ombro em busca de algo novo.
Nunca encontrei paz no peito duma mulher. Por muito que abrace, beije e adormeça agarrado ao meu amor, acabo por acordar na sua ausência com outra qualquer.
De tanto amar, perdi a minha fé; sacrifiquei no fogo profano o meu amor, consumindo a minha alma de desejo. Nada é sagrado em todo o chão onde caí; apenas encontrei pedras, pó, dor e desilusão.
O amor é uma droga que precisa de doses cada vez maiores para atingir o mesmo efeito. E por isso, sempre que o destino vem, damos mais e mais para que o amor fique. Mas ele nunca fica, apenas passa.
Podemos dar o que quisermos, que mesmo assim o diabo volta para reclamar mais. E recomeça tudo outra vez da casa de partida, enquanto o diabo esfrega o olho ;)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

730 dias

"Absence is to love as wind is to fire; It extinguishes the small and kindles the great".

Metamorfoses

Passamos a vida vagueando neste caos solitário em busca de uma estrela que nos oriente de regresso a casa. Acreditamos que vamos encontrar o caminho ignorando que as estrelas não são mais do que um aglomerado acidental de astros perenes que dançam no vazio ao sabor do tempo. Às vezes, perdemo-nos da estrela que nos guia, outras tantas, desiludimo-nos com o que está por detrás do seu brilho ou descobrimos que é apenas eco de um passado extinto.
No caos desta vida, o encontro de duas almas gémeas é um milagre. Quando se acham, a solidão desaparece dando lugar a uma estranha familiaridade de palavras e gestos apenas sonhados, reflectidos no outro. Impelidas por uma estranha força que as atrai, abraçam-se em silêncio. Nesse abraço, sem passado nem futuro, sentem o que suspeitavam apenas existir, a sua origem e destino finalmente reencontrados.
As almas gémeas, quando o são, não são iguais, apenas se entregam de forma igual, sem esforço. Sentindo-se inteiras e aceites, sem perguntas nem condições, cessam a sua demanda como se tivessem reunido algo que tem a sua razão de ser no outro.
Mas a vida é eterna mudança enquanto o universo respira. As constelações expandem-se, aumentando o espaço vazio entre as estrelas, cada vez mais remotas. Olhos nos olhos, a janela que une as almas transforma-se num espelho através do qual as almas já não se conseguem tocar. E as almas condenam-se a errar incontáveis vezes pelo vazio do universo em busca de algo que já as encontrou.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Aos amores impossíveis

Por medo de estar sozinho, o verdadeiro amor foi crucificado.
Forçado a conformar-me, a minha alma foi negada.
Os anos passaram, e toda a esperança se afundou;
De que sejamos finalmente livres, sendo apenas sonhos passados.