sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Máscaras

Vivemos rodeados de máscaras neste baile quotidiano em que só entra quem tem uma. Nem nos apercebemos que as temos colocadas por causa da leveza com que nos moldam a cada situação. À custa de as usarmos, elas vão-se entranhando na pele, fazendo-nos acreditar que somos o que parecemos, alimentando a ilusão de que somos mais do que criaturas patéticas aos papeis.
Tentamos esconder os nossos defeitos e vulnerabilidades; queremos acreditar que somos melhores aos olhos dos outros, de forma a sermos aceites. Criamos expectativas e ilusões, nem nome das quais fingimos, mentimos, matamos, pois preferimos outras realidades a ter de lidar com a nossa solidão.
A verdade é que ninguém as quer tirar. Uns porque têm medo de que não haja nada por detrás, outros para evitar o horror de revelar à luz do dia a criatura monstruosa que têm dentro de si. Com o tempo, tornam-se impermeáveis, amordaçando-nos dentro de nós próprios. E percebemos que não conseguimos tirar a máscara porque já nem nos recordamos do que realmente somos sem ela.
Mais tarde ou mais cedo, as máscaras começam a pesar, a sufocar, a revelar uma rigidez desconfortavel, que precede o surgimento de rachas a cada movimento em falso. Deixamos de ser livres, para sentir, para amar. Porque amar é sermos permeáveis e tirarmos a máscara perante o outro. E quando finalmente chega a meia-noite, descobrirmos que nos perdemos de nós próprios e o baile terminou e não restou ninguém para dançar a não ser aquela máscara no espelho.

6 comentários:

  1. Talvez ninguém queira tirar a máscara, porque depois de a colocares, ela passa a fazer parte de ti. Confortável ou incómoda.... mas ainda assim parte integrante do que és...

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  2. Talvez as máscaras façam parte de quem somos e quando amamos, também amamos a máscara mas não é a máscara que ama...

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  3. Não... não é a máscara que ama, mas tens razão, por vezes é possivel amar uma garrafa de água vazia, pela garrafa, e até pelo vazio... porque também se pode amar o nada...

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  4. Não se ama o nada pois ninguém é vazio...se a pessoa está vazia, tem de se encher para poder amar e ser amada.

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  5. Por nada, entenda-se neste caso o desconhecido... pois mesmo uma garrafa de água vazia tem ar lá dentro :)

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  6. Gostei deste texto sobre máscaras. Começamos a criá-las na nossa adolescência para sermos aceites pelos amigos, familia ou professores. Com o tempo vamos criando varias para as varias areas das nossas vidas, pois assim sentimos que pertencemos a algo e não somos criticados. Mas como disseste com o tempo vão se tornado pesadas e custa-nos viver com elas, porque o que nos queremos é ser feliz e não só ser aceites pelo o que fazêmos passar para os outros. Queremos ser nós mesmos, talvez mais maduros e mais crescidinhos, mas sermos nós, somente nós.
    Sim é dificil vermos livre destas mascáras, talvez nem consigamos ver livre de todas, mas acho que devemos retirá-las para as relações com quem nós é realmente importante, para os nossos mais que tudo.
    Devias ler ou ouvir o audio book do Miguel_Ruiz_-_La_Maestria_del_Amor
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    um abraço,
    Lili

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